Agraciados com chuva e samba no
pé, agricultores e agricultoras de comunidades do município de Mirangaba-Ba, participaram do intercâmbio
intermunicipal com riqueza e grande alegria, realizado nos municípios de Caém e
Jacobina, na Bahia, durante os dias 22 e 23 de julho de 2014. Trocando
experiência e histórias vividas no sertão, que retratam a força e resistência do
povo camponês, fazendo circular o conhecimento popular produzido em diversos
lugares do Semiárido.
Ação importante como essa, faz
parte do processo de formação e mobilização social para a Convivência no
Semiárido, do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido
Brasileiro (ASA), em execução pela Cooperativa de Trabalho e Assistência e
Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte (COFASPI). Que tem como objetivo
incentivar, por meio da troca de vivências e aprendizados entre os próprios
agricultores e agricultoras, que fortalecem o desenvolvimento sustentável da
agricultura familiar.
A recepção calorosa de Janete, Marines e dona Isabel aquecia o frio do período chuvoso da comunidade de Inácio
João – Caém. Abrindo as porteiras de suas experiências de produzir alimentos
orgânicos, além de dividir as vivências de desafios e superação na sua região,
interagindo bem com os/as visitantes, que logo passaram a questionar sobre os
saberes para chegar a resultados exitosos, com diversidade de plantios, com base nos princípios
agroecológico, que faz uso de práticas naturais para vingar frutos saudáveis,
livre de agrotóxicos.
Enquanto, Marinez ensinava como
fazer o biofertilizante, que serve como defensivo natural para pragas e ainda
fortalece a terra para produção, que logo interessou ao seu José Carlos, “É bom
demais aprender essas coisa, vou fazer assim que chegar em casa”, em outra
parte da propriedade, dona Isabel contava sobre a receita da pimenta do reino
com álcool e rúmen ( fezes
frescas) de gado, do mel de fumo, do enxofre, que auxilia no afastamento
dos pulgões das produções de hortaliças. Mais na frente já observavam a
compostagem para adubação, além de perceber a prática do canteiro econômico
espalhada naquelas experiências.
Janete lembrava ainda a
importância de plantar erva-cidreira, capim santo, capim nagô, gergelim,
pimenta, cravo de defunto, entre as hortas para que as pragas invés de irem para
as verduras e hortaliças procurem
por essas plantas, “tudo que cheira elas gostam”.
Para Janete, mudanças positivas
ocorrerão na vida delas, a partir da conquista da cisterna-calçadão, quando
resolveram encarar os desafios de produzir orgânico, e ainda resultou na
organização da Feira Agroecológica de Caém. “As cisternas chegaram como
incentivo para produzir alimentos saudáveis para nossa mesa. É difícil essa
produção, mas a gente vê hoje que vale a pena. Conseguimos ainda realizar um
sonho de organizar um espaço para comercializar e trazer uma renda para nossa
família”.
No final das visitas, um
pequeno instante para refletir e socializar as práticas vistas naquele dia,
assim como as mudanças que os visitantes acreditam que precisam levar para sua região. Como diversidade
na produção, “o nosso problema lá é investir só na banana, precisamos produzir
outras coisas também”, frisa seu Orlando. Outro fato bem debatido foi a questão
do adubo químico, o grande mal que esse causa para terra e para quem consome os
produtos vindo desse solo. “Precisamos mudar essa realidade também. Pensando
principalmente nas futuras gerações”, relata Farnésio Bráz (Comunicador da
COFASPI).
O povo de Mirangaba levou muita
coisa boa para casa, da comunidade de Inácio João, mas também deixou seus
saberes, e em especial a alegria da cultura do samba, contagiando e esquentando
o clima frio daquele dia de intercâmbio.
O segundo dia, também abençoado
com chuva, contou com a visita na “feirinha”
orgânica de Jacobina, sendo possível relembrar de uma expressão de Janete. “A
satisfação maior é saber que o consumidor leva para casa um produto de
qualidade do mesmo que colocamos na nossa mesa”.
Mais tarde na sede da COFASPI,
o coordenador Gilvando Souza conduziu um momento maior de avaliação, além de
contar sobre a Rede de Feiras Agroecológica nos município do Piemonte,
incentivando o ingresso deles e delas futuramente nesses espaços de produção e
comercialização de alimentos orgânicas, que vem gerando renda e autonomia para as
famílias do campo.
Após discutir, avaliar e
apresentar a bagagem que levavam para casa, extraído
desses dois dias de encontro, reafirmando em sorrisos, olhares e expressões
como, “Gostamos demais, tem que ter outros dias, o intercambio
foi encerrado com muito samba no pé”. Porque Convivência no Semiárido vai além
da luta pelo acesso à água e pela agricultura familiar, mas envolve a
valorização das culturas populares, riquezas do sertão.
Robervânia Cunha,
Comunicadora da COFASPI
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