quarta-feira, 20 de julho de 2016

P1+2: Tecnologias sociais no Semiárido fortalecem produção de alimentos saudáveis

Implementação de cisterna de enxurrada em Capim Grosso/BA
No início deste mês de julho, a Cooperativa de Trabalho e Assistência à Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte (COFASPI) iniciou em Capim Grosso/BA a implementação de tecnologias sociais para captação e armazenamento de água da chuva, por meio do Programa Uma Terra e Duas Águas, conhecido como P1+2. No município, representantes das 40 famílias agricultoras, selecionadas para fazer parte do programa, são incentivadas a desenvolver o manejo agroecológico, que promove a convivência harmônica do homem com a natureza, dialogando ainda sobre temas relacionados à gestão da água e cuidados com os solos em ações de capacitação.
Serão implementadas 29 cisternas de enxurrada, quatro cisternas calçadão e sete barreiros trincheira familiar que são importantes tecnologias para o uso da água na agricultura, a fim de fomentar a soberania e segurança alimentar de famílias do Semiárido. “Foi uma coisa muito boa que aconteceu na minha vida. Eu ‘tô’ muito feliz”, afirmou o agricultor Pedro Calado, que mora na comunidade Mata do Estado e desenvolve, com a família, plantio de flores, produções agroecológicas de hortaliças e plantas medicinais.

Curso de GAPA e SISMA em Capim Grosso/BA


Ações em Capim Grosso - O uso indiscriminado de venenos ou agrotóxicos em lavouras prejudica o ecossistema. Além de afetar o ciclo do meio ambiente, provocam danos à saúde de quem aplica o produto e também aos consumidores/as dos alimentos contaminados. Fugindo dessa lógica, famílias que têm acesso a políticas públicas e projetos sociais, são incentivadas a desenvolver a agroecologia. Uma das principais pesquisadoras dessa área de estudo, a agrônoma Ana Maria Primavesi descreve em uma das suas reflexões, que “agroecologia não é uma alternativa excêntrica de cultivar o solo, mas a única possibilidade se pretendemos sobreviver em nosso Planeta” (2012 - O solo: A base da vida em nosso globo).
Para compreender ainda mais sobre a agricultura, com técnicas que preservam os recursos naturais do Semiárido, agricultoras e agricultores experimentadores participaram em junho dos cursos de Gerenciamento de Água para Produção de Alimentos (GAPA) e Sistema Simplificado de Manejo de Água para Produção (SISMA) do P1+2, socializando saberes a respeito da produção de alimentos saudáveis e o uso da água, evitando desperdícios. Segundo a técnica em agropecuária, Átila Sant’ana, que colaborou na mediação desta atividade, foram abordados temas como organização comunitária, alternativas de convivência com o Semiárido, soberania e segurança alimentar, economia solidária, preservação ambiental, além de distinções entre o modelo de agricultura convencional e as práticas agroecológicas.
Durante os cursos também foram realizadas práticas com orientações sobre técnicas que contribuem para a nutrição dos solos e o aproveitamento da água das chuvas. Foi na Casa do Menor, em Capim Grosso/BA, que agricultoras e agricultores acompanharam o processo de construção dos canteiros econômicos, essencial para diminuir o uso da água na irrigação das hortaliças produzidas pelas famílias agricultoras. Os participantes também esclareceram dúvidas sobre o controle de insetos prejudiciais às plantas, ouvindo as sugestões de uso dos biofertilizantes feitos com produtos naturais, como a mistura de água e pimenta, que ajuda a fazer o controle, por exemplo, do inseto popularmente conhecido como lagarta. Sobre esta questão, um dos mediadores da atividade prática, o técnico agropecuário Marcones Rios que trabalha na Casa do Menor, alertou ainda: “Se utilizarmos sempre o mesmo defensivo, o inseto se torna resistente, por isso é bom ter uma diversidade de defensivos naturais”.
Outra atividade sugerida às agricultoras e agricultores foi o processo de produção de um composto que contribui para nutrir os solos e é feito com a reutilização de folhagens, cinza, esterco, casca de ovo, restos de alimentos e sobras de frutas, entre outros produtos. O agricultor Altino Ribeiro da comunidade Tigre, que tem áreas de produção de verduras, destacou que o curso foi uma oportunidade de mais aprendizados. Os saberes ele pretende compartilhar com outras pessoas que ainda não conhecem essas técnicas essenciais para a proteção do meio ambiente e da saúde das famílias brasileiras.

Programa - Por meio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a COFASPI executa o P1+2 não só em Capim Grosso/BA, como também em Jacobina/BA, onde estão sendo implementadas outras 29 tecnologias para captação e armazenamento de água (cisternas calçadão) nas comunidades Estrada Nova e Pau Ferro, localidades em que também foram realizados cursos sobre gestão de água e fundamentos da agroecologia.

Na COFASPI, a equipe do programa, coordenado pelo agrônomo João Nunes, tem uma auxiliar administrativa, Deise Oliveira, e dois técnicos agrícolas, Rone Lima e Valdinei Ferreira, que atuam respectivamente em Jacobina/BA e Capim Grosso/BA. Também colaboram para a realização dos projetos, pedreiros e as famílias selecionadas para fazer parte do programa. “A princípio a tecnologia é voltada para a produção e consumo familiar de alimentos sadios, agroecológicos. (...) E depois, se a família começar a produzir em excesso, os produtos que eles não consumirem a gente pode tentar levar para as cadeias de comercialização”, afirmou o coordenador do P1+2 na COFASPI, João Nunes.

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