A troca de experiência, aprendizado, saber
e sabor popular sertanejo, bem como vivência de outra realidade marcaram o
intercâmbio interestadual do Projeto Feiras Agroecológicas Solidárias, executado pela Cooperativa de Trabalho e Assistência à Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte (COFASPI),
realizado em Junho de 2013 no Polo da Borborema na Paraíba.
Um total de 38 agricultoras e agricultores
pertencentes a dez municípios do Território Piemonte da Diamantina, que compõem a Rede de
Feiras Agroecológicas Solidárias do Piemonte da Diamantina (REFAS), fizeram
parte dessa atividade da COFASPI, que oportunizou
a troca de experiências sobre agroecologia e convivência com o semiárido. Essas
agricultoras e esses agricultores familiares são assistidas/os pelo projeto de
assistência técnica e extensão rural (ATER), também executado pela cooperativa,
no intuito de promover o acompanhamento contínuo dessas famílias, garantindo a
produção orgânica e agroecológica.
O grupo do Território Piemonte foi
acolhido pelo Polo Sindical da Borborema, que no primeiro momento do
intercâmbio apresentou a história de organização social das trabalhadoras e
trabalhadores rurais descontentes com a subordinação e dependência estabelecida
pelo agronegócio e pelas políticas de combate à seca, foram motivados a lutar
por melhores condições de produção e de
vida e pela permanência no campo.
O Polo Sindical da Borborema bebeu da
fonte dos movimentos populares do Brasil e da América Latina, a exemplo da
experiência do Movimento Campesino da Nicarágua, com a qual o grupo já trocou
experiências. As ações de convivência com o semiárido desenvolvidas se fundamentam nessas estratégias:
fortalecimento dos fundos rotativos solidários; estudo dos arredores de casa e
organização das mulheres, mobilização da juventude; armazenamento de forragem e
silagem para o rebanho; criação de viveiros comunitários; democratização do
acesso aos mercados para a agricultura familiar; luta pela água e a luta pela
terra; sobre esta Dona Maria (Agricultura e Assentada do MST) destacou que “é a
luta de desmanchar as favelas e levar o povo de volta a sua raiz”. A organização
da Borborema também é referência no processo de auto-organização das mulheres e
se coloca na luta concreta pelo fim da violência contra a mulher do campo.
No
decorrer da vivência o grupo conheceu a experiência da Feira Agroecológica de
Campina Grande, organizada pela rede Eco Borborema; as
experiências de Convivência com o Semiárido no Assentamento Oziel Pereira do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) situado na zona rural de
Remígio, aonde a família de Dona Zefinha e Seu Paulo possuem em sua propriedade
a cisterna para consumo humano, cisterna calçadão, e construíram o quintal
produtivo, produção em policultivo, viveiros, silagem da palma, ademais o casal
participa do Fundo Rotativo Solidário e do Banco de Sementes Crioulas Comunitário.
Joelma, animadora de campo/técnica
agrícola do Projeto das Feiras Agroecológicas da COFASPI, destacou a
experiência exitosa da feira agroecológica na qual a organização conquistou a articulação junto a
Companhia Nacional De Abastecimento (CONAB) através do Projeto Mesa Brasil,
compra os produtos das agricultoras e dos agricultores diretamente e também
todas as sobras da feira semanal através do
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Isso garante que as hortaliças e demais
alimentos não estraguem e o escoamento da produção é garantido; ela comenta
ainda que dentre as experiências visitadas as que mais chamaram a atenção foram
os Bancos de Sementes, Fundos Rotativos Solidários (de telas), Participação das
mulheres, jovens e crianças, Práticas e Sistemas de Produção Agroecológica.
A luta pela semente crioula, conhecendo o viveiro de mudas e avaliando a
experiência
Outra
bandeira levantada pelo Polo é a luta contra a semente transgênica e pela
semente crioula- “A Semente da Paixão”- enquanto patrimônio cultural, histórico do
povo camponês. Na
comunidade Maracajá, município de Queimadas, o grupo de agricultoras
e agricultores visitou a experiência do Banco de Sementes Comunitário que
possui uma vasta variedade de sementes crioulas; essa comunidade começou a se
organizar pelo acesso a água e ao longo da trajetória formaram uma Associação
Comunitária que foi construída por jovens, mulheres e daí pautaram outras
estratégias de Convivência com o Semiárido.
Ademais,
o grupo realizou visitas das experiências nas propriedades de famílias
agricultoras do município de Lagoa Seca e também ao viveiro do Centro
Agroecológico São Miguel, situado na sede da AS-PTA (Agricultura Familiar e
Agroecologia) no município de Esperança, Paraíba.
A troca
de experiências durante a vivência foi riquíssima, as/os participantes
retornaram com mais entusiasmo e acúmulo de saberes compartilhado, para
continuar a lida com terra e com o Semiárido de forma agroecológica e coletiva.
Dona Joelita é agricultora familiar, da
comunidade Grota do Brito e demonstrou
seu sentimento de entusiasmo e aprendizados proporcionado pelo intercâmbio. “A
gente acha que sabe tudo, mas aqui eu aprendi bastante, as pessoas passam uma
experiência muito diferente da nossa e vou tentar seguir em frente fazendo o
que eu fazia, mas fazendo um pouco do que eles fazem aqui também, isso é muito
importante”, afirmou a agricultora.
O
intercâmbio também possibilitou o fortalecimento e consolidação da REFAS, pois
congregou representantes dos 10 municípios que compõem a rede das feiras, que
se reuniram em um momento específico para debater as potencialidades, os
desafios e as demandas a serem construídas pela rede. “Todas essas experiências
contribuíram de forma significativa,
e refletirá nos
trabalhos que os
agricultores da REFAS - Piemonte buscarão aperfeiçoar juntamente com a COFASPI
e os parceiros locais”, afirmou Joelma.
Além
disso, o grupo admirou o trabalho popular realizado pelo Polo Sindical da
Borborema, isso motivou a organização social e política das agricultoras, dos
agricultores seja através de sindicatos, movimentos sociais.
Para
Sinval (Agricultor Familiar, Militante do MPA, Assentamento
Caiçara-Serrolândia) participar desse intercâmbio proporcionou de novos
aprendizados que poderão ser cultivados na sua comunidade. “Aqui a gente tá
vendo esse viveiro de mudas, que é muito interessante para o pequeno
agricultor, porque gera até uma fonte de renda nas nossas comunidades. Então, a
gente levando esse conhecimento que tá aqui, a gente pode tá implantando outra
tática lá, buscando reforço, para que a gente desenvolva mais atividade na zona
rural (...). A experiência foi bem gratificante, esses conhecimentos, que a
gente conheceu essas tecnologias que estão implementando aqui e é bom e
interessante pra gente levar esses conhecimentos pra lá, pras comunidades”,
comentou.
Esse
intercâmbio interestadual é uma atividade que a COFASPI compreende como sendo
uma metodologia de educação contextualizada, popular, de valorização dos
saberes populares, camponeses que caminha rumo à construção de vida,
possibilidades agroecológicas de convivência e permanência no solo semiárido
nordestino.
Ivanessa Brito, Comunicadora Popular da COFASPI.
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