sexta-feira, 5 de julho de 2013

Agricultoras e Agricultores do Piemonte da Diamantina trocam saberes e experiências em intercâmbio no Polo da Borborema



A troca de experiência, aprendizado, saber e sabor popular sertanejo, bem como vivência de outra realidade marcaram o intercâmbio interestadual do Projeto Feiras Agroecológicas Solidárias, executado pela Cooperativa de Trabalho e Assistência à Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte (COFASPI), realizado em Junho de 2013 no Polo da Borborema na Paraíba.
Um total de 38 agricultoras e agricultores pertencentes a dez municípios do Território Piemonte da Diamantina, que compõem a Rede de Feiras Agroecológicas Solidárias do Piemonte da Diamantina (REFAS), fizeram parte dessa atividade da COFASPI, que oportunizou a troca de experiências sobre agroecologia e convivência com o semiárido. Essas agricultoras e esses agricultores familiares são assistidas/os pelo projeto de assistência técnica e extensão rural (ATER), também executado pela cooperativa, no intuito de promover o acompanhamento contínuo dessas famílias, garantindo a produção orgânica e agroecológica.

O grupo do Território Piemonte foi acolhido pelo Polo Sindical da Borborema, que no primeiro momento do intercâmbio apresentou a história de organização social das trabalhadoras e trabalhadores rurais descontentes com a subordinação e dependência estabelecida pelo agronegócio e pelas políticas de combate à seca, foram motivados a lutar por melhores condições de produção e de vida e pela permanência no campo.


O Polo Sindical da Borborema bebeu da fonte dos movimentos populares do Brasil e da América Latina, a exemplo da experiência do Movimento Campesino da Nicarágua, com a qual o grupo já trocou experiências. As ações de convivência com o semiárido desenvolvidas se fundamentam nessas estratégias: fortalecimento dos fundos rotativos solidários; estudo dos arredores de casa e organização das mulheres, mobilização da juventude; armazenamento de forragem e silagem para o rebanho; criação de viveiros comunitários; democratização do acesso aos mercados para a agricultura familiar; luta pela água e a luta pela terra; sobre esta Dona Maria (Agricultura e Assentada do MST) destacou que “é a luta de desmanchar as favelas e levar o povo de volta a sua raiz”. A organização da Borborema também é referência no processo de auto-organização das mulheres e se coloca na luta concreta pelo fim da violência contra a mulher do campo.
 
No decorrer da vivência o grupo conheceu a experiência da Feira Agroecológica de Campina Grande, organizada pela rede Eco Borborema; as experiências de Convivência com o Semiárido no Assentamento Oziel Pereira do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) situado na zona rural de Remígio, aonde a família de Dona Zefinha e Seu Paulo possuem em sua propriedade a cisterna para consumo humano, cisterna calçadão, e construíram o quintal produtivo, produção em policultivo, viveiros, silagem da palma, ademais o casal participa do Fundo Rotativo Solidário e do Banco de Sementes Crioulas Comunitário.

Joelma, animadora de campo/técnica agrícola do Projeto das Feiras Agroecológicas da COFASPI, destacou a experiência exitosa da feira agroecológica na qual a organização conquistou a articulação junto a Companhia Nacional De Abastecimento (CONAB) através do Projeto Mesa Brasil, compra os produtos das agricultoras e dos agricultores diretamente e também todas as sobras da feira semanal através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Isso garante que as hortaliças e demais alimentos não estraguem e o escoamento da produção é garantido; ela comenta ainda que dentre as experiências visitadas as que mais chamaram a atenção foram os Bancos de Sementes, Fundos Rotativos Solidários (de telas), Participação das mulheres, jovens e crianças, Práticas e Sistemas de Produção Agroecológica.


A luta pela semente crioula, conhecendo o viveiro de mudas e avaliando a experiência
Outra bandeira levantada pelo Polo é a luta contra a semente transgênica e pela semente crioula- “A Semente da Paixão”- enquanto patrimônio cultural, histórico do povo camponês. Na comunidade Maracajá, município de Queimadas, o grupo de agricultoras e agricultores visitou a experiência do Banco de Sementes Comunitário que possui uma vasta variedade de sementes crioulas; essa comunidade começou a se organizar pelo acesso a água e ao longo da trajetória formaram uma Associação Comunitária que foi construída por jovens, mulheres e daí pautaram outras estratégias de Convivência com o Semiárido.

Ademais, o grupo realizou visitas das experiências nas propriedades de famílias agricultoras do município de Lagoa Seca e também ao viveiro do Centro Agroecológico São Miguel, situado na sede da AS-PTA (Agricultura Familiar e Agroecologia) no município de Esperança, Paraíba.
A troca de experiências durante a vivência foi riquíssima, as/os participantes retornaram com mais entusiasmo e acúmulo de saberes compartilhado, para continuar a lida com terra e com o Semiárido de forma agroecológica e coletiva.

Dona Joelita é agricultora familiar, da comunidade Grota do Brito e demonstrou seu sentimento de entusiasmo e aprendizados proporcionado pelo intercâmbio. “A gente acha que sabe tudo, mas aqui eu aprendi bastante, as pessoas passam uma experiência muito diferente da nossa e vou tentar seguir em frente fazendo o que eu fazia, mas fazendo um pouco do que eles fazem aqui também, isso é muito importante”, afirmou a agricultora.

O intercâmbio também possibilitou o fortalecimento e consolidação da REFAS, pois congregou representantes dos 10 municípios que compõem a rede das feiras, que se reuniram em um momento específico para debater as potencialidades, os desafios e as demandas a serem construídas pela rede. “Todas essas experiências contribuíram de forma significativa, e refletirá nos trabalhos que os agricultores da REFAS - Piemonte buscarão aperfeiçoar juntamente com a COFASPI e os parceiros locais”, afirmou Joelma.

Além disso, o grupo admirou o trabalho popular realizado pelo Polo Sindical da Borborema, isso motivou a organização social e política das agricultoras, dos agricultores seja através de sindicatos, movimentos sociais.

Para Sinval (Agricultor Familiar, Militante do MPA, Assentamento Caiçara-Serrolândia) participar desse intercâmbio proporcionou de novos aprendizados que poderão ser cultivados na sua comunidade. “Aqui a gente tá vendo esse viveiro de mudas, que é muito interessante para o pequeno agricultor, porque gera até uma fonte de renda nas nossas comunidades. Então, a gente levando esse conhecimento que tá aqui, a gente pode tá implantando outra tática lá, buscando reforço, para que a gente desenvolva mais atividade na zona rural (...). A experiência foi bem gratificante, esses conhecimentos, que a gente conheceu essas tecnologias que estão implementando aqui e é bom e interessante pra gente levar esses conhecimentos pra lá, pras comunidades”, comentou.

Esse intercâmbio interestadual é uma atividade que a COFASPI compreende como sendo uma metodologia de educação contextualizada, popular, de valorização dos saberes populares, camponeses que caminha rumo à construção de vida, possibilidades agroecológicas de convivência e permanência no solo semiárido nordestino.
 Ivanessa Brito, Comunicadora Popular da COFASPI.





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