terça-feira, 20 de agosto de 2013

O acampamento da Chapada do Apodi e a busca por uma vida mais digna pelos agricultores/as familiares


No dia 13 de agosto de 2013, por volta das dez horas da manhã, membros de entidades vinculadas à Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) potiguar fizeram uma visita ao acampamento  da chapada do Apodi. Esse acampamento é formado por cerca de 1.200 famílias que ocupam o território da chapada que possivelmente será ocupado pelo “Projeto da Morte”, oficialmente denominado de projeto do Perímetro Irrigado do Apodi. Na Chapada do Apodi, localizada na divisa dos estados do Rio Grande do Norte e do Ceará, há uma disputa por dois modelos de agricultura.

Um dos modelos está “enraizado” nas comunidades da região, e tem uma preocupação com a biodiversidade, a distribuição de renda e a democratização da água e da terra. O outro, ao contrário, provoca a concentração de terra, de água e de renda e destrói a natureza.
Esse projeto prevê integrar as terras da Chapada do Apodi e a água da barragem de Santa Cruz a cinco grandes empresas da fruticultura irrigada, o que destruiria a constituição econômica dessa cidade a qual é baseada na agricultura familiar, por meio da produção de mel e da criação de caprinos. Esse projeto está propondo irrigar cinco mil hectares de terra em sua primeira fase para produzir cacau – que é totalmente desconhecido na região – uva e goiaba, com base na utilização, em grande escala, de agrotóxicos e sob o domínio de cinco grandes empresas. Grandes nomes buscam transformar um território camponês produtor de alimentos saudáveis em uma zona de exportação, e, com isso, transformar uma pequena parcela da população local em mão-de-obra barata, trabalhando sob condições subumanas, características do agronegócio brasileiro.

No entanto, agricultores, juntamente com o Movimento dos Sem Terra (MST), e várias organizações da sociedade civil estão se organizando na luta de resistência contra a tomada da chapada do Apodi. A luta em defesa da Chapada do Apodi se tornou uma luta nacional de todos aqueles e aquelas que defendem a dignidade das comunidades camponesas. Essa força é expressa inteiramente pelo clamor dos agricultores: Lutar, lutar, lutar e resistir. Lutar e resistir pela Chapada do Apodi!

Lêda Mayara, Comunicadora Popular da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA)
Chapada do APODI
Foto: Janaína Henrique

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

MOBILIZAÇÃO NAS RUAS DA CIDADE MARCOU O SEGUNDO DIA DA FESTA DE DEZ ANOS DA COFASPI




O segundo dia (26 de Julho) de atividades foi inaugurado com a Caminhada pela Agricultura Familiar, na qual agricultoras e agricultores, membros da COFASPI e do MOC percorreram as ruas de Jacobina, com muita animação através de cantos populares e também com palavras de ordem como: “Se o campo não planta a cidade não janta”, foram feitas reivindicações por mais crédito para a Agricultura Familiar, Contra os Agrotóxicos e Pela Agroecologia, por uma Política justa de Convivência Com o Semiárido e Contra a Cisternas de Plástico. A marcha foi conduzida até a Praça Rio Branco e se interligou com a feira de exposição dos projetos da COFASPI e dos grupos produtivos, em tendas de artesanato, sementes crioulas, produtos agroecológicos. Esse espaço possibilitou visibilidade a COFASPI, além do diálogo com a população de Jacobina sobre os projetos desenvolvidos que visam fortalecer a agricultura familiar, a alimentação saudável para as pessoas do campo e da cidade e a convivência com o semiárido.
Sobre a relevância das mobilizações nas ruas Ana Dalva (integrante do MOC) afirmou: “(...) no aniversário de 10 anos da COFASPI a gente presenciou um momento importante para o Território, a manifestação nas ruas, onde agricultores e agricultoras levantaram a bandeira da agricultura familiar, gritando o que tem abalado à assistência técnica na agricultura familiar, que somos contra a cisterna de plástico. É um momento importante para dizer para o governo para sociedade o que de fato é impactante. As pessoas estão na rua para dizer que as políticas públicas do governo precisam dialogar com a realidade do povo”, enfatizou.

O período da tarde foi composto por uma roda de conversa sobre o “Desenvolvimento Rural Sustentável e Convivência com o Semiárido” junto aos parceiros representantes da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (UNICAFES), Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), Movimento Organização Comunitária (MOC), Associação das Cooperativas de Apoio a Economia Familiar (ASCOOB) que trouxeram em suas falas elementos sobre o projeto de Convivência com o Semiárido que as entidades vêm desenvolvendo e se posicionaram contra as Cisternas de Plástico, contra os venenos e o agronegócio, contra as sementes transgênicas; além disso, os representantes da Superintendência de Agricultura Familiar - SUAF, e do Banco do Brasil reafirmaram a parceria com a COFASPI e com o Povo do Semiárido Brasileiro.

Para encerrar esse momento histórico e festivo de comemoração dos 10 anos de Cooperativa, nada melhor que homenagear pessoas importantes, que fizeram e fazem parte dessa longa caminhada de atuação da COFASPI, em especial ao Diretor presidente Robson Aglayton, “são 10 anos de história, de ação concreta, de sonhos e de esperança que são construídos por muitas mãos, pés, cabeças e corações. Os dois dias de celebração foram recheados de saberes e sabores do sertão junto com as agricultoras e agricultores, trabalhadoras e trabalhadores, parceiros que ao longo dessa trajetória escrevem a VIDA da COFASPI”, afirma O presidente Robson.

Viva a força e resistência do Povo Catingueiro! “Só mandacaru, só mandacaru resistiu tanta dor...”.

METODOLOGIA DO CARROSSEL FOI DESTAQUE NA PROGRAMAÇÃO 1º DIA



A programação do dia (25 de Julho) foi destacada pela metodologia participativa do Carrossel, na qual os/as agricultores/as experimentadores/as trocaram suas experiências exitosas (familiares ou comunitárias) entre demais agricultores e agricultoras de diferentes regiões. Dessa forma, o carrossel foi organizado em oito eixos temáticos com as seguintes experiências: 
Comunidade Lutanda (Projeto Mais Água)

O agricultor familiar experimentador, Murilo Mendes, compartilhou sua experiência na produção agroecológica de alimentos como: hortaliças, mandioca, maracujá, mamão, pinha, quiabo e cultivo do mel através da apicultura, na comunidade Lutanda, município de Pindobaçu. Ele contou as estratégias utilizadas para repelir insetos da lavoura, e destacou também que com a tecnologia social que ele será beneficiado com o "Projeto Mais Água" vai garantir a produção de alimentos mesmo no período de estiagem.

Comunidade Inácio João (Projeto Cisternas e ATER)
Janete agricultora experimentadora apresentou sua vivência junto com outras companheiras da comunidade Inácio João, acerca do beneficiamento do licuri. Além disso, a agricultura relata sua experimentação com o cultivo de hortaliças e através disso ela produz caseiramente o tempero de alho “Tempero da Janete”. A agricultura fala com entusiasmo sobre seu afeto pela vida no campo, pelo semiárido e incentiva aos demais agricultores/as pela permanência na roça.

Grupo de Mulheres Experimentadoras do Assentamento Vila Nova (P1+2)

O grupo de oito mulheres compartilhou a experiência de luta e resistência no Assentamento Vila. Nesse sentido, produzem alimentos, sem agrotóxicos, como frutas, verduras e hortaliças usados na alimentação da família e o excedente é comercializado nas feiras locais. Elas relatam que a auto-organização das mulheres melhorou a qualidade de vida no campo, na alimentação e contribuindo como fonte de renda para as mulheres.


 
Feiras Agroecológicas Solidárias
A sala temática representada pelo Projeto de “Programa e Fortalecimento dos Fundos Rotativos Solidários e Feiras Agroecológicas” contou com a presença da comissão que representa a Redes de Feiras Agroecológica Solidárias do Piemonte da Diamantina (REFAS Piemonte), Juliana Alves (2ª Secretária), Maria Givaneide de Silva (1ª Secretária) e Zenaide Maria (2ª Tesoureira).
A comissão relatou um pouco da forma de gestão e organização da Rede Feiras, além das experiências vivenciadas no campo, nos intercâmbios e nas feiras, através do manejo agroecológico da produção e do comércio justo e solidário na feira. Citaram também experiência de fundo rotativo solidário familiar, comunitário e em rede. Elas ressaltaram a necessidade de lutar contra os agrotóxicos e nesse sentido passaram um abaixo assinado contra as multinacionais que produzem os venenos/ agrotóxicos.
Maria Givaneide frisou a importância da junção e adaptação entre os projetos executados pela COFASPI, uma vez que fortalece o desenvolvimento e fortalecimento da rede e dos demais projetos.


Grupos de Agricultores/as Experimentadores do Movimento de Organização Comunitária (MOC)



O Senhor Idelmiro, agricultor da comunidade de Mandaçaia, município de Riachão do Jacuípe e Senhor Pavão da comunidade de Malhada da Areia, município de Araci.  Apresentaram as experiências de como fazem para estocar água, semente, como funciona o sistema da agroecologia e a economia solidária.









Outra experiência trazida pelo MOC foi a de Dona Terezinha, agricultora e militante do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR), que relatou sobre pluviometria do Território do Sisal, onde mora.






Experiência da Associação da Quilombola-AQUIBOM



Essa temática socializou a experiência das comunidades quilombolas de Monteiro e Bom Jardim,município de Caém, do processo de muita luta para conseguir montar a Associação de Produtores de Mandioca de Bom Jardim e Monteiro-AQUIBOM. Assim como, as conquistas que estão conseguindo após a constituição da Associação.


Encerramento
Ao final do dia cada grupo se reuniu na plenária e foi apresentado ao coletivo a sistematização dos aprendizados, das trocas de experiências vivenciadas em cada sala temática. A agricultora Veraneide comentou sobre o aprendizado e a troca de saberes que esse espaço proporcionou para sua prática: “Hoje aqui foi só aprendizado, está sendo muito importante, muito gratificante, cada sala que a gente chega é um assunto diferente, tem coisas que a gente já trabalhava e outras que a gente ainda não conhecia, como por exemplo, o defensivo natural da mistura do ‘nim’ com a urina da vaca, que fica mais forte e com mais qualidade.” (Veraneide, Comunidade Jenipapo, Saúde)”.
A noite cultural ficou por conta do som regional dos sambadores de das comunidades de Coqueiros e Palmeiras do município de Mirangaba, que fez o povo sacudir, festejar e manifestar a cultura popular do sertão.