Foto: arquivo site notícias da Lapa |
NOTA PÚBLICA
A Articulação do
Semiárido da Bahia - ASA Bahia, o Fórum Baiano da Agricultura Familiar -
FBAF e a Articulação de Agroecologia na Bahia - AABA apoiam totalmente
os protestos que ocorreram no dia 02 de novembro último, em Correntina,
em defesa do uso público das águas e contra a degradação gerada pelo
agronegócio naquela região.
Ao mesmo tempo, endossamos os posicionamentos da Comissão Pastoral
da Terra - CPT, dos movimentos populares da região de Correntina e da
Deputada Neuza Cadore, que em declarações na Assembleia Legislativa e
fora dela, manifestou-se a favor dos interesses públicos e contrária aos
processos predatórios que se desenvolvem na região de Correntina.
Com o ato, as comunidades de Correntina, especialmente aquelas dos
Fundos e Fechos de Pasto, organizações da sociedade civil e Sindicatos
de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais denunciam a crescente devastação
da Caatinga, do Cerrado e do que ainda resta de Mata Atlântica naquela
região. O agronegócio vem, progressivamente, determinando a morte do Rio
Corrente e depredação do aquífero Urucuia, através da retirada de água,
sem critérios, para irrigações predatórias que se multiplicam por
aquela região.
Este ato e manifestações somam-se ao clamor público sobre a situação,
já há mais tempo denunciada, do Rio São Francisco, com sua morte
decretada pelos mesmos procedimentos predatórios que ora se fazem sentir
em Correntina. As multidões vão às ruas exigindo o cumprimento da
legislação de proteção ambiental, legislação esta que vem sendo
descumprida largamente nesta região e em outras de nosso Estado. O
Cerrado continua sendo desmatado, as matas ciliares derrubadas, os
afluentes dos rios sendo gradativamente transformados em rios
intermitentes.
Se depredamos a região de Correntina, se desmatamos o Cerrado e a
Caatinga, se castigamos a reserva de Urucuia, se expulsamos de suas
terras as comunidades tradicionais que zelam por estes biomas e estas
águas e delas se consideram seus guardiões, se damos ao Rio Corrente o
mesmo destino que já demos ao São Francisco, que adianta falarmos em
desenvolvimento?
Devastar florestas, depredar rios e reservas é cometer um crime
hediondo, pois nega perspectivas da vida às populações atuais, assim
como a milhares pessoas que virão depois de nós. Não temos o direito,
sob a alegação de gerar recursos e de um pseudodesenvolvimento, de legar
aos nossos pósteros rios intermitentes ou secos, reservas devastadas,
florestas dizimadas, terras desertificadas.
Não se justifica ação policial contra os manifestantes e nem a
criminalização dos movimentos sociais, como começa a acontecer. Isso não
resolve. Piora. A população busca direitos violados. E não abdicará de
buscá-los mesmo sendo incriminados e expostos à injusta ação policial.
Queremos uma reunião urgente com o Governador do Estado e os
Secretários do Desenvolvimento Rural, do Meio Ambiente, da Segurança
Pública e da Casa Civil, juntamente com outros atores que apoiam os
movimentos, para debater e direcionar questões relativas às aguas
naquela região, assim como às terras em que vivem as comunidades
tradicionais.
Avaliamos que esta demanda será de logo atendida pelo Governo do
Estado e que poderemos construir caminhos de solução deste conflito.
A ASA Bahia, o FBAF e a AABA se colocam à disposição para esta
construção, ao tempo em que reiteram o apoio aos movimentos sociais de
Correntina e se colocam absolutamente contra toda e qualquer tentativa
de incriminação dos mesmos.
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